quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Os novos evangélicos e a nova reforma protestante

Publicado por @paoevinho em 07/8/10 • Categoria: Odres Novos
Por Ricardo Alexandre.
Inspirado no cristianismo primitivo e conectado à internet, um grupo crescente de religiosos critica a corrupção neopentecostal e tenta recriar o protestantismo à brasileira.

Irani Rosique não é apóstolo, bispo, presbítero nem pastor. É apenas um cirurgião geral de 49 anos em Ariquemes, cidade de 80 mil habitantes do interior de Rondônia. No alpendre da casa de uma amiga professora, ele se prepara para falar. Cercado por conhecidos, vizinhos e parentes da anfitriã, por 15 minutos Rosique conversa sobre o salmo primeiro (“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios”). Depois, o grupo de umas 15 pessoas ora pela última vez – como já havia orado e cantado por cerca de meia hora antes – e então parte para o tradicional chá com bolachas, regado a conversa animada e íntima.
Desde que se converteu ao cristianismo evangélico, durante uma aula de inglês em Goiânia em 1969, Rosique pratica sua fé assim, em pequenos grupos de oração, comunhão e estudo da Bíblia. Com o passar do tempo, esses grupos cresceram e se multiplicaram. Hoje, são 262 espalhados por Ariquemes, reunindo cerca de 2.500 pessoas, organizadas por 11 “supervisores”, Rosique entre eles. São professores, médicos, enfermeiros, pecuaristas, nutricionistas, com uma única característica comum: são crentes mais experientes.

O cirurgião Irani Rosique (sentado, de camisa branca, com a Bíblia aberta no colo). Sem cargo de clérigo, ele mobiliza 2.500 pessoas no interior de Rondônia.
Apesar de jamais ter participado de uma igreja nos moldes tradicionais, Rosique é hoje uma referência entre líderes religiosos de todo o Brasil, mesmo os mais tradicionais. Recebe convites para falar sobre sua visão descomplicada de comunidade cristã, vindos de igrejas que há 20 anos não lhe responderiam um telefonema. Ele pode ser visto como um “símbolo” do período de transição que a igreja evangélica brasileira atravessa. Um tempo em que ritos, doutrinas, tradições, dogmas, jargões e hierarquias estão sob profundo processo de revisão, apontando para uma relação com o Divino muito diferente daquela divulgada nos horários pagos da TV.
Estima-se que haja cerca de 46 milhões de evangélicos no Brasil. Seu crescimento foi seis vezes maior do que a população total desde 1960, quando havia menos de 3 milhões de fiéis espalhados principalmente entre as igrejas conhecidas como históricas (batistas, luteranos, presbiterianos e metodistas). Na década de 1960, a hegemonia passou para as mãos dos pentecostais, que davam ênfase em curas e milagres nos cultos de igrejas como Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil e O Brasil Para Cristo. A grande explosão numérica evangélica deu-se na década de 1980, com o surgimento das denominações neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renascer. Elas tiraram do pentecostalismo a rigidez de costumes e a ele adicionaram a “teologia da prosperidade”. Há quem aposte que até 2020 metade dos brasileiros professará à fé evangélica.
Mais uma vez comprova-se que o fenômeno do cristianismo simples está crescendo e cada vez mais chamando a atenção tanto da Igreja institucional quanto da mídia secular . Mas não penso que o cristianismo simples ao qual a reportagem se refere seja a “recriação do Protestantismo à brasileira.” Este não é um fenômeno exclusivamente tupiniquim, muito embora o potencial de crescimento da Igreja nos lares no Brasil seja imensamente maior do que em muitos países – o que ocorre também na Igreja institucional.
O artigo está muito bem escrito, levando-se em consideração que provavelmente saiu da pena de um jornalista secular. Mas o autor comete algumas generalizações a começar pelo fato de dizer quetodo cristão não-católico no Brasil é evangélico (ver quadro acima). Mormons e Testemunhas de Jeová não se consideram e não são considerados evangélicos.
Ao ler o artigo completo (o que vemos acima é somente um trecho), vemos que o autor cita três correntes, sem se preocupar em diferenciá-las. A primeira, é a Igreja nos lares, a segunda é a Igreja emergente e a terceira é a dos blogueiros apologistas. Ele converge estas três correntes em um movimento de reação contra as exuberâncias do neopentecostalismo.
Mas a Igreja emergente, por exemplo, não se trata de uma reação ao neopentecostalismo. A Igreja emergente entende que a Igreja moderna, em geral, necessita de uma reforma e tem como enfoque construir pontes entre a Igreja e a geração pós-moderna. E apesar de a “desinstitucionalização” ser parte da pauta do diálogo emergente, muitas das comunidades emergentes são institucionais.
O artigo menciona os chamados blogueiros apologistas entre os novos reformadores, mas eles em sua maioria são somente irmãos conservadores de orientação reformada que não estão de acordo com os abusos das igrejas neopentecostais. Eles acertadamente clamam pelo regresso a uma sã doutrina, mas isso não necessariamente faz deles cristãos emergentes ou novos evangélicos.
Embora o neopentecostalismo seja a “vidraça” da vez, a Igreja nos lares tampouco é uma reação ao neopentecostalismo especificamente e sim uma alternativa ao sistema institucional de forma generalizada. Mais detalhes em meu próximo artigo sobre o assunto.

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